Pouco antes de morrer, o filósofo e escritor Umberto Eco, um dos maiores estudiosos da ciência da comunicação e da mídia na atualidade, observou, numa entrevista, que "as mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis".
Basta fazer um breve passeio pelas redes sociais para se concluir que o professor italiano está pleno de razão. As asneiras que as pessoas se julgam no direito de tornar públicas na mídia social revelam o mais absoluto desrespeito à dignidade humana. Parece que o semianonimato dos que se pronunciam nesses meios sociais de comunicação estimula alguns a assumirem abertamente sua falta de civilidade. Não conseguem falar uma palavra de crítica ou desacordo sem acompanhá-la de sórdidos palavrões; isso, quando não se esmeram em difundir mentiras, meias verdades, versões fantasiosas ou nitidamente tendenciosas.
Alguns aplaudem essas condutas confundindo grosseria e injúria com coragem. Na verdade, esses comportamentos denotam apenas falta de argumentos, de civilidade e de decoro pessoal.
Crítica e oposição firme no campo das ideias não é incompatível com educação e decoro (obviamente, para quem os tem). As palavras certamente são armas, mas devem ser manejadas como produtos da civilização e não da barbárie. Não como armas de destruição, mas de convencimento. Para combater ideias e opiniões, não para desqualificar pessoas.
A liberdade de expressão é indispensável para a vida democrática; por isso mesmo a Constituição a coloca entre os direitos fundamentais da pessoa humana. Mas o seu escopo é contribuir para o aperfeiçoamento humano, para a transparência no espaço público, para o pluralismo e a manifestação da diversidade, para o combate à injustiça e ao erro. É um direito muito nobre para servir ao discurso do ódio, à injúria, à difamação e à leviandade. Pode até ser exercido com veemência, mas não como ataque gratuito à honra das pessoas, ou a serviço da mentira e da fraude.
Com a aproximação das eleições municipais, é possível que o discurso odiento venha a reinar com mais força e presença nas mídias sociais. Nosso povo às vezes se deixa levar facilmente pelas aparências da voz tonitruante dos que falam grosso, mas não falam nada. O discurso vazio, mas sonoro (e todo palavrão soa alto e forte), às vezes converte multidões incautas.
A Internet é um instrumento tecnológico extraordinário para a comunicação entre as pessoas, troca de informações, ideias e experiências, registro de momentos especiais da vida de cada um, debate adulto de questões de interesse público etc. Não se pode permitir que esse instrumento maravilhoso de comunicação instantânea e de longo alcance entre as pessoas seja tomado pela vulgaridade, a burrice e o ódio, transformado em veículo preferencial de manifestação dos piores instintos humanos.